A arte de morrer é a arte de viver!

Se você soubesse hoje que iria morrer o que você sentiria? Essa é uma pergunta muito importante pra você se fazer agora.
Pare um minuto e reflita sobre isso. Quais seriam seus sentimentos no momento de enfrentar a morte? Gratidão? Arrependimento? Você sentiria que viveu uma vida que valeu à pena? Sentiria que está em paz com você e que poderia ir em paz? Sentiria que você foi um ser humano correto, justo e que fez o seu melhor papel na vida? Sentiria que gostaria de ter feito as coisas de forma diferente? Que gostaria de ter levado a vida de uma forma diferente?

Hoje faz quase quatro meses que meu pai faleceu, após cinco anos lutando contra um câncer no fígado. Ele morreu jovem, aos 69 anos. E lidar com a morte do meu pai me fez pensar sobre todas essas perguntas que eu listo acima. Esse enfrentamento da morte pode chegar a qualquer momento pra todos nós. Não devemos deixar pra responder essas perguntas no leito da morte. Devemos nos pergunta-las agora, enquanto ainda há tempo. Pois no leito da morte será tarde demais.

A arte de morrer é a arte de viver! Como estaremos preparados para a nossa morte se nem ao menos soubemos levar a nossa vida aqui. Uma vida plena, sincera, que faz sentido, que vale á pena viver. Você só tem uma chance pra levar essa vida e não chegar arrependido no final. E se as suas repostas a essas perguntas te trazem sensações ruins, você precisa fazer algo pra começar a mudar as suas atitudes e o rumo da sua vida agora.

Hoje entendo como a minha viagem de dois anos pelo mundo me ajudou nessa compreensão tão importante de vida. E sou grata por ter me permitido viver essa experiência. A viagem pelo mundo me provou que eu não tenho controle sobre a vida e que o único controle que eu tenho é o de levar a vida que eu quero de verdade pra me sentir feliz. Essa consciência me fez mudar de vida completamente na volta para viver uma vida mais equilibrada, mais sincera, trabalhando com algo que me trazia propósito e que fazia sentido pra mim. Quando paro pra responder à essas perguntas me sinto tranquila. O dia que a morte me chamar posso ir em paz. Sim, sempre sentiremos que poderíamos viver mais, sempre sentiremos uma dor por deixar as pessoas queridas aqui. Mas não podemos mudar isso. Só podemos sentir o que já vivemos.

Deixo abaixo o texto que eu escrevi na cerimônia de adeus do meu pai para todos os amigos e familiares. Um texto, que além de uma homenagem ao ser humano incrível que ele sempre foi, é uma oportunidade para refletirmos sobre a vida agora. Não deixe de ler.

“A Arte de Morrer é Arte de Viver.

 

A primeira vez que eu ouvi essa frase foi em um retiro de meditação do silêncio quando estava grávida de 5 meses. E ela chamou muito a minha atenção. Afinal, que frase mais simples e sensata… Como poderemos estar prontos para morrer se não soubermos nem ao menos levar a vida aqui. Mas na época não imaginei que sentiria esse conceito tão próximo a mim.

Nosso pai lutou quase cinco anos contra um forte câncer no fígado. Foi uma montanha russa, cheia de altos e baixos. Passamos por todas as fases… A revolta, a negação, o sentimento de injustiça… Até que todos os sentimentos negativos foram se transformando em compreensão da vida. Mas eu me lembro que o momento de maior acalento veio no dia em que eu fiz uma simples pergunta pra ele. Eu perguntei: “o que você gostaria de fazer que você ainda não fez? Um sonho, um desejo? (meu intuito era simples, o de trazer um pouco de alegria pra vida dele, que estava relativamente limitada). Mas a resposta dele me chocou! Ele disse: “nada”. Eu falei: “nada! não é possível pai”. Então ele me explicou: “Minha filha, eu tive a vida que eu queria. Eu não me arrependo de nada, eu sou feliz com as minhas escolhas, eu acho que fui uma pessoa justa e honesta, eu fiz grandes amigos e eu construí uma família linda, que me deixa muito orgulhoso. Eu nunca tive grandes ambições e meu papel mais importante eu cumpri, que era o de criar seres verdadeiramente humanos para o mundo. Me sinto satisfeito e com dever cumprido. Quando for a minha hora posso ir em paz. Eu estou pronto.” Na mesma hora aquela frase veio na minha cabeça e eu falei pra ele: “a arte de morrer é a arte de viver”. Meu coração se sentiu mais leve e eu fiquei feliz. Feliz por ele, por ter chegado a essa etapa da vida com esse sentimento maravilhoso. E eu falei: “que bom pai, que bom que você se sente assim. Isso me deixa muito feliz.” Que forma linda de terminar a vida. Sem arrependimentos, feliz pelo que viveu e com sensação de dever cumprido.

Definitivamente achamos que ele é um cara especial. Daqueles que não encontramos fácil por aí. Ele foi um verdadeiro cidadão, um cara honesto e justo e que lutou pelos seus ideais. Ele foi um filho maravilhoso e atencioso, que cuidou dos pais até o último suspiro e de quebra ainda cuidou dos pais da mamãe. Ele foi um irmão querido, que servia de elo entre toda a família e que todos sabiam que podiam contar. Ele foi aquele amigo divertido, alegre e do peito de muitos, e de tantos virou o irmão adotivo do coração. Ele foi um mentor admirado e respeitado para muitas pessoas que cruzaram o seu caminho, seja no trabalho ou na vida. Ele foi um marido companheiro, cúmplice e parceiro que construiu um lindo relacionamento com a minha mãe daqueles de virar exemplo. E ele foi um pai do cacete… amigo, conselheiro, parceiro dos nossos sonhos, que nos ensinou a voar, a sermos livres e a acreditarmos. E foi até o pai adotivo do coração de vários dos nosso amigos que o viam com admiração.

Ele realmente nunca teve grandes ambições… Mas no fundo ele entendia de forma natural o verdadeiro segredo da vida. No final, não importa quanto dinheiro, quantas coisas, quanto sucesso temos… A única coisa que resta são as pessoas e o amor à sua volta. A maior paixão do papai eram as pessoas, a família, os seres humanos. Ele nunca fez distinção entre as pessoas e pra ele a única coisa que importava eram os valores humanos de quem cruzava seu caminho. Ele viveu uma vida dedicada às pessoas e a fazer o bem à sua volta. Ele foi um ser humano de verdade, na verdade um dos seres mais humanos que conhecemos. Um doador nato. Doou seu tempo, doou seu dinheiro, doou seu conhecimento, doou seu afeto… às outras pessoas. Esse é certamente o maior orgulho que temos dele e no final, acho que sem ele nem perceber, conquistou a maior ambição de todas… Ser um ser humano inspirador, admirado, querido, amado, insubstituível, inesquecível e com um poder incrível de transformar vidas à sua volta. Como eu sempre falei. Ele era FODA!

Ficamos muito felizes com a quantidade de mensagens e declarações tão lindas que recebemos e isso mostra que ele é de fato um ser humano muito especial. Nosso pai deixou um rastro de luz, de alegria, de afeto, de energia do bem e de amor, que jamais será esquecido. E como alguém não poderia ir embora em paz após viver uma vida tão linda assim.

No fundo, mesmo com todas as dificuldades enfrentadas ao longo desses quase cinco anos lutando contra a doença nos sentimos gratas! Gratas por termos caído nessa família linda. Gratas pela vida não ter tirado ele da gente repentinamente e sem explicação. Gratas pela vida nos ter dado esse tempo com ele. Gratas pela vida nos dar o tempo necessário para compreender o processo natural das coisas. Gratas por ver a evolução humana e pessoal que ele teve com todo esse aprendizado. Somos gratas, muito gratas! Pois toda essa jornada nos fez evoluir e aprender, não somente sobre a morte, mas sobretudo sobre a vida!

Hoje é um dia inevitavelmente de lágrimas. Por vezes o coração parece esmagado, a cabeça arde, nos sentimos zonzas, anestesiadas… As vezes parece apenas um sonho e que a qualquer momento ele vai aparecer pelo porta dizendo que tudo não passou de mais uma das suas piadas de humor negro. Os pensamentos são confusos e a montanha russa das emoções muda de hora em hora. Mas não fiquem preocupados. Estamos bem, serenas e calmas, na medida do possível. Entendemos o processo da vida, sabemos que não temos controle sobre ela e só queríamos o que fosse melhor pra ele. Ele precisava e merecia descansar e por diversas vezes ele reforçou isso.

Nos preparamos por muito tempo para esse dia. Conversamos abertamente com ele sobre a morte dele e sobre esse momento que chegaria. Estamos com o coração aliviado de que ele está em paz, mas o nosso sofrimento é inevitável para o fechamento deste ciclo. Afinal, onde há sofrimento é sinal de que há amor. E essa é uma história de amor muito forte. Um amor, que ele e a mamãe construíram e ensinaram à gente. Um amor que não encontra barreiras de distância e que fica cada dia mais forte. A doença do papai nos fez passar por momentos muito difíceis, mas que ao final se transformaram em momentos lindos de união e de prova desse amor e o momento da partida dele só mostrou que estamos mais fortes e unidas do que nunca e que esse amor e exemplo de valores humanos deixado por ele vai se proliferar por todas as nossas gerações.

Esperamos que esse não seja um ritual de adeus e sim de até breve. Contudo, esse sofrimento que sentimos somente o tempo poderá curar. Pois vamos precisar reaprender a viver sem o seu abraço, sem a troca de sorrisos, sem o toque… Para nos contentarmos apenas com as boas lembranças.

Mas mesmo com todas as lágrimas que fazem parte desse processo da vida, gostaria de relembrar que hoje é um dia de celebração à vida. Ele sabia que não tinha controle sobre ela, mas entendia que o único controle que ele tinha era a escolha de ser feliz e isso ele fez com maestria. Hoje, celebramos uma vida bem vivida, sincera, alegre, honesta, feliz, gaiata, divertida, inspiradora. Uma vida inesquecível!!! Queremos que ele seja lembrado com aquele sorriso lindo, charmoso e contagiante. E para celebrar essa vida tão especial eu peço apenas uma salva de palmas cheia de boas energias.”

Assinado: Carolina Fernandes (filha, fã, admiradora e amiga)

Você só tem uma vida pra viver uma vida que valeu à pena. Não deixe pra depois.
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Carol Fernandes

IDEALIZADORA

Uma virginiana certinha da pá virada, que virou de vez depois de viajar o mundo e decidiu que só ia fazer o bem. Criou a ViraVolta porque acredita que viajar o mundo transforma as pessoas e as pessoas transformam o mundo. Não escreve rebuscado, poético ou certinho, mas fala com a alma e o coração.​

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