Como pegar carona em barcos

VOCÊ CONTINUA INSISTINDO QUE NÃO PODE VIAJAR O MUNDO PORQUE NÃO TEM DINHEIRO NEM PRA PASSAGEM? MAS QUEM DISSE QUE VOCÊ PRECISA PEGAR UM AVIÃO PRA EXPLORAR O OUTRO LADO DO MUNDO?. Eu não sei se você sabia, mas é possível chegar até o o outro lado do planeta pegando carona em barcos. Diversos viajantes já fizeram assim. Se você é fissurado por barcos, se você é um amante do mar, se você gostaria de viver uma grande aventura e se você não tem grana nem pra passagem… Essa pode ser uma solução perfeita. A Eve é uma francesa violista de arco de 27 anos e eu a conheci porque ela começou a tocar com o meu marido Alexis aqui em São Paulo. E em um belo dia batendo papo me dei conta de que ela tinha feito uma longa viagem pra chegar até aqui, cerca de 2 anos e meio viajando, e que ela nunca tinha pego nenhum avião pra chegar da França até o Brasil. Então convidei a Eve para compartilhar dicas sobre carona em barcos. Afinal, ela já pegou carona em 7 barcos diferentes.

Texto de Eve Idrissi

 

Em Outubro de 2013, eu sai da França em um veleiro de 11 metros chamado Ivitu. Eu não sabia por quanto tempo ia viajar. Eu tinha a vaga ideia de ir até as ilhas Caribenhas, mas estava aberta para deixar o vento me levar. 2 anos e meio e 7 veleiros depois, e muitos quilômetros de terra atrás de mim, aqui estou em São Paulo, Brasil, para contar um pouco sobre essa maravilhosa aventura que foi de pegar carona em barco.

Eu só tinha uma pequena lembrança de menina de estar em um veleiro, mas senti um chamado forte de viajar pelo mar quando saí. Encontrei meu primeiro veleiro na internet, mas depois de pouco tempo percebi que não daria certo. Encontrei então um segundo veleiro, que com esse sim rolou. Eu não conhecia ninguém, mas você se aproxima das pessoas muito rápido quando passa 24 horas, 7dias por semana, num espaço pequeno. Com as pessoas em um barco, assim como no mar, ou funciona ou não funciona. Assim, diretamente.

Depois de mais ou menos quatro meses, passando por Espanha, Portugal, Ilhas Madeira e Ilhas Canárias, cheguei em Cabo verde, onde troquei de barco para atravessar o Atlântico. Depois de duas semanas, cheguei em Martinica no dia 1 de janeiro de 2014. No Caribe, fiquei um tempo velejando entre as ilhas e pegando carona nos portos até que encontrei um capitão que iria até a Colômbia, ainda que nunca tenha chegado lá neste veleiro. O capitão nos deixou na pequena ilha de Carriacou, eu e dois outros viajantes do barco, onde seus habitantes nos acolheram de braços abertos. Nós ficamos quase um mês esperando, sem saber se íamos conseguir um veleiro pra chegar até o continente (afinal os veleiros também têm temporadas e rotas). Até que a sorte nos sorriu e com um ultimo barco coloquei pé no chão depois de 9 meses de viagem no mar.

A REALIDADE DESSE ESTILO DE VIAGEM:

 
  • Enjôo: Se você tem sorte nunca vai sentir, mas em regra geral são 3 a 5 dias de adaptação, dependendo da navegação. Não tem muito o que fazer, além de esperar. Eu escutei muitos truques (ponto de acupuntura, remédios naturais ou não, etc.), mas minha única recomendação é positividade. O mental tem um papel grande. As três primeiras pessoas com quem saí de França não terminaram sua viagem. O tempo é longo para quem está doente num barco e navegar é tanto uma liberdade como uma prisão.
  • Não existe também uma duração de viagem: Quem viaja de barco esta a mercê do vento e do mar. Você sabe quando vai, mas nunca quando vai chegar, o que é também a magia deste tipo de viagem. Eu viajei uma vez com uma pessoa com pressa, e passamos por um perrengue enorme em uma tempestade.
  • Treine acrobacias: Um veleiro está sempre se movendo, quer seja parado ou navegando. Significa ter atenção à objetos voando! Qualquer objeto solto é uma arma em potencial! Então, você fica profissional em arrumar as coisas.
  • Economia: Especialmente a água doce é uma coisa muito preciosa num veleiro. Você vai descobrir a cozinha com água do mar, a louça com água do mar, as duchas de chuva e muitas outras coisas. É uma ocasião para repensar seu consumo geral.
  • Você também vai aprender a escutar seu corpo: É o fim da rotina! Aqui o corpo é mestre. Você come quando tem fome, fica acordado de noite para não ser o próximo Titanic e então dorme de dia. De toda forma o mar não tem relógio.
  • Vida em comunidade: num espaço tão pequeno como um veleiro, respeito e convivência são fundamentais. As pequenas gentilezas de um café quente ou uma canção têm todo o sabor. Se você tem pudores, vai esquecer do significado dessa palavra. Também não esqueça que você está na casa de alguém, a do próprio capitão, o que significa que ele vai dar a cor da vida em comunidade.

Para mim todos os pontos acima foram em alguns momentos de minha viagem vantagens e em outros desvantagens. A liberdade que o veleiro dá é tão grande como seus limites também. Mas o que é certo é que se trata de uma experiência fascinante, e que pode fazer você se apaixonar.

 

 

DICAS PARA PEGAR CARONA EM BARCOS:

 

Onde conseguir carona em barcos?

  • Internet: em fóruns ou sites especializados. Você pode achar oportunidades em sites como CrewSeekers, YaCrews, Floatlan e Find a Crew.
  • Indo diretamente onde tem barcos: como Yacht clubs e porto, e conversar com as pessoas de lá, deixar um cartaz etc. Em geral, no Yacht club ou perto, existe um café com wifi onde vão todos os marinheiros. Encontre esse café e você vai encontrar oportunidades.

Conseguir carona é difícil?

Internet é uma boa opção para pessoas que estão buscando desde sua casa, mas os sites são em geral em inglês ou em francês. Ir nos portos permite encontrar diretamente a pessoa, mas pode demorar também.
De qualquer forma é preciso ter paciência e tempo. Os veleiros em geral também têm rotas e estações, então recomendo que você troque uma idéia com alguém ou busque informações na internet. Por exemplo, a travessia do Atlântico da Europa até as Américas é entre Novembro e Dezembro.

Quais pontos ficar atento para pegar carona em barcos?

  • Visto: em geral o visto tem um custo e você tem que fazer as entradas e saídas dos países no porto, nos dias seguintes ou logo anteriores à sua chegada e partida. Eles inscrevem você no veleiro. Se você vai descer algumas vezes, eles podem pedir um voo de saída.
  • Responsabilidade: O capitão tem muita responsabilidade. Com seu registro no veleiro, ele é responsável por você no mar e também em terra. Então lembre-se de ser responsável também.
  • Custos: Muda muito. O mais comum é em geral compartilhar a comida, gasolina e porto. Mas vai da pessoa. Tem gente que não vai pedir dinheiro até alguns que vão cobrar um fixo por dia. Os dois têm suas razões. No caso de um fixo, o capitão está normalmente fazendo uma caixa para custos com reparos (que podem ser bastante elevados).
  • Trabalho (ajuda no barco): é comum oferecer a ajuda em troca da carona no valeiro. Porém, mais que um trabalho, o capitão em geral vai pedir para você participar na vida do veleiro. Mas isso depende também do barco, do capitão, da viagem e de você. As atividades mais comuns navegando são a cozinha, a louça e a vigilância, de dia e de noite. No porto, vocês vão ajudar com a limpeza do veleiro, as compras de comida e a encher os tanques de água e de gasolina. Com tempo e aprendizagem, e se você tiver vontade, pode participar mais na navegação e nas manobras.

Toda viagem é uma experiência humana e pessoal e você não vai terminar da mesma forma que começou. A diferença para mim, em comparação com outras viagens, é que o mar é uma escola de humildade que apaga as fronteiras entre ser humano e natureza. 

EVE IDRISSI

Sou uma francesa morando em São Paulo. Minha missão é distribuir sorrisos, surpresas e emoções com meu violino, no metrô ou na esquina de uma rua. Ainda penso em voltar a voar de novo no mar, talvez com meu próprio veleiro.

Viu, sempre tem uma solução, para os mais diferentes estilos de viagem. Vai que dá! Até mesmo pegando carona em barco.

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Carol Fernandes

IDEALIZADORA

Uma virginiana certinha da pá virada, que virou de vez depois de viajar o mundo e decidiu que só ia fazer o bem. Criou a ViraVolta porque acredita que viajar o mundo transforma as pessoas e as pessoas transformam o mundo. Não escreve rebuscado, poético ou certinho, mas fala com a alma e o coração.​

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