Burning Man, o evento que você precisa participar uma vez na vida

NÃO, NÃO É UMA RAVE. NEM UM FESTIVAL DE MÚSICA. O BURNING MAN É DIFERENTE DE TUDO QUE VOCÊ JÁ OUVIU FALAR. Eu acho que participar de eventos locais quando estamos viajando é sempre uma oportunidade imperdível, pois nos possibilita ver, entender e experimentar mais sobre a cultura, a história e a forma de pensar de um determinado povo.

Hoje, final de agosto de 2015, enquanto você lê esse post, eu estou lá em Nevada, participando do Burning Man, que sempre esteve na minha lista de coisas para se fazer antes de morrer. E eu decidi escrever esse post antes de ir porque são tantas coisas pra falar sobre ele que um post não seria suficiente.

Antes de compartilhar a minha experiência com vocês na volta da viagem, achei que seria importante vocês entenderem o que é e qual a essência do evento. Esse vai ser o post mais longo da história da ViraVolta, mas duvido você não ficar se coçando pra ter essa experiência depois de ler tudo.

O QUE É O BURNING MAN?

 

É o maior evento de “contracultura” do mundo realizado no deserto Black Rock Desert, em Nevada, nos Estados Unidos.

Contracultura – foi um termo que surgiu no auge década de 60, como uma definição para todas as práticas e manifestações que visam criticar, debater e questionar tudo aquilo que é visto como vigente em um determinado contexto sócio-histórico. É um tipo de mobilização e contestação social e cultural contra um movimento natural de homogeneização da população que acabou ocorrendo após a segunda guerra mundial com o desenvolvimento e organização das sociedades capitalistas.

A cultura hippie, Janis Joplin, Jimi Rendrix e Woodstock foram grandes representações na história desse movimento de “contracultura”.

A principais características de um movimento de “contracultura” são: valorização da natureza; vida comunitária; luta pela paz (contra as guerras, conflitos e qualquer tipo de repressão); vegetarianismo (busca de uma alimentação natural); respeito às minorias raciais e culturais; experiência com drogas psicodélicas, liberdade nos relacionamentos sexuais e amorosos, anticonsumismo, aproximação das práticas religiosas orientais (principalmente do budismo); crítica aos meios de comunicação de massa e discordância com os princípios do capitalismo e economia de mercado. PS: Não deixe de ler os 10 mandamentos do evento ao final e vai ficar claro como muitas dessas características são traduzidas lá.

O Burning Man foi criado em 1986 por Larry Harvey, em Baker Beach, São Francisco. Com o tempo o evento ganhou proporções gigantescas e em 1990 mudou para o Black Rock Desert. Atualmente, durante 10 dias, uma cidade enorme é construída do nada no meio de deserto e cerca de 60 mil pessoas terão a oportunidade de ver, interagir, sentir e refletir sobre muitos desses conceitos da “contracultura”.

AS 3 PRINCIPAIS RAZÕES PARA O BURNING MAN SER DIFERENTE DE TUDO QUE VOÇÊ JÁ VIU:

 

Existem 3 fatores que sempre me chamaram a atenção sobre o evento e é por isso que eu gostaria de ver com meus próprios olhos como tudo isso funciona.

1- Um evento feito por todos: é o único evento do mundo que é feito pelos 60 mil participantes. A organização é responsável por construir toda a infra-estrutura da cidade montada no meio do deserto, o homem gigante (que é o símbolo principal) e o templo (outro marco importante). Porém, todas as obras de arte montadas e todas as atrações oferecidas são feitas pelo participantes. E eu acho isso absolutamente incrível!

2- Não existe relação financeira: é claro que todos devem pagar o bilhete do evento (400 US$ para 10 dias), afinal, sem isso seria impossível construir aquela enorme cidade no meio do nada. E somente a organização vende gelo (por questões óbvias) e café (ainda não sei bem porque mas vou descobrir) por preços bem razoáveis. Mas fora isso, qualquer transação financeira é completamente proibida. Tudo é oferecido e compartilhado. E cada participante precisa se preocupar em levar o seu kit de sobrevivência básico para o deserto (água, comida, tenda, etc).

3- Você pode ser quem você quiser: não existe ninguém julgando e determinando como as pessoas devem se comportar e se vestir. Lá, você pode ser quem você quiser, na forma mais profunda de expressão do seu ser. O seu sonho era viver em um mundo onde todos andam pelados? Fique à vontade. Você queria poder todo dia usar cores e brilhos infinitos? Fique à vontade. Você queria ser um animal? Fique à vontade. Seja quem você quiser. Se sinta livre. Todos os participantes estão de mente aberta e mais interessados em conhecer as diferentes formas de pensar.

É claro que com 60 mil participantes, deve ter alguns curiosos e perdidos que não entendem o conceito do evento e acabam agindo de forma inadequada para a proposta do evento. A liberdade é incentivada mas o respeito mútuo e da comunidade também é fundamental.

OS ÍCONES DO BURNING MAN:

 

O evento tem vários ícones representativos da sua cultura e o empenho de todos os participantes em fazer parte de fato aplicam ao evento um estilo memorável. A criatividade dos participantes é inquestionável e fazem toda a diferença. Se eu tivesse que descrever o evento visualmente eu compararia ao filme Mad Max, mas eu vou mostrar aqui as imagens mais representativas dos ícones do Burning Man e você vai entender o que eu estou falando.

O homem que queima

Não é a toa que o evento se chama burning man. Todo ano eles constroem um novo homem de madeira gigante, que pode chegar até 40 metros, e ele é queimado no último sábado do evento.

 

 

Essa história de queimar tem uma explicação. O ato de queimar seria uma forma representativa de catarse, para você eliminar da sua vida pensamentos, eventos passados ou sensações que impedem o seu bem-estar e a sua evolução. É nada mais do que um ritual. Afinal, quase todas as comunidades do mundo possuem algum tipo de ritual. Inclusive, qualquer participante pode levar itens representativos que eles gostariam de queimar para colocar nas áreas apropriadas onde o ritual de queima pode ser realizado.

O mais incrível é que nenhum rastro é deixado no deserto após os rituais de queima. Existe uma estrutura na base que impede o solo de ser afetado pelas chamas do ritual. Eu diria que essa é uma grande representação de como eles levam a sério os princípios. Afinal, não deixar nenhum traço que prejudique a natureza é um deles (leia ao final do texto).

Templo

O templo é o segundo maior ícone do evento e ele também é queimado no último domingo. Dizem que o templo é o lugar mais calmo e silencioso. As pessoas vão lá para pensar, reverenciar memórias, refletir e celebrar transições da vida. É um lugar espiritual, mas que não está associado a nenhum tipo de religião.

Artes

Artistas do mundo inteiro e muitos deles renomados, oferecem seus talentos e suas habilidades para o evento, oferecendo obras de arte gigantes que são instaladas no meio do deserto e que deixam qualquer um de queixo caído.

Veículos mutantes

Eles viraram um clássico do Burning Man e são todos feitos e criados pelos participantes. Alguns participam todos os anos e já viraram um “must” do evento. Existem vários, cada um com um design mais legal que o outro. Eles acabam virando uma outra forma de arte, porém móveis.

Bicicletas

Por uma questão óbvia as bicicletas se tornaram parte do evento. A cidade do evento tem uma forma circular de 2,4 km e pra você cruzar de um lado ao outro vai ter que andar mais de 1 hora. Então, elas facilitam muito a vida. Mas o mais legal é que muitos participantes as transformam em obras de arte, decorando suas bicicletas.

Pessoas

O princípio da auto expressão radical faz com que as pessoas se expressem de forma artística e é claro que elas viram parte do show.

OS 10 PRINCÍPIOS DO BURNING MAN:

 

Isso é muito importante para o evento. Tudo foi criado, é desenvolvido e organizado com base nesses princípios. Eles divulgam isso por todo lado e todos os participantes devem conhecer e entender de coração esses princípios. Afinal, é isso que faz o evento ser tão incrível e ter atingido tais proporções.

1 – Auto Expressão Radical: Liberdade para ser você mesmo. A auto expressão surge dos dons únicos de cada indivíduo. Ninguém mais além do indivíduo, ou de um grupo colaborando, pode determinar o seu conteúdo. E isso é oferecido como um presente para os outros. Neste espírito, quem oferece deve respeitar os direitos e liberdades de quem recebe.

2 – Autoconfiança: você é responsável por você mesmo, mentalmente e fisicamente. O Burning Man encoraja o indivíduo a descobrir, exercitar e confiar nos próprios recursos internos.

3 – De-comoditização: esqueça do dinheiro, não tem nada para comprar. Para preservar o espírito de presentear nossa comunidade procura criar ambientes sociais que não são mediados por patrocínios, transações ou publicidade. Buscamos substituir o consumo por experiências participativas.

4 – Não deixe rastros: de pó ao pó, deixe apenas pegadas. Nossa comunidade respeita o meio ambiente. Temos o compromisso de não deixar nenhum vestígio físico das nossas atividades. Onde quer que nos reunamos, nós limpamos depois de nós mesmos e procuramos, sempre que possível, deixar tais lugares em melhor estado do que quando os encontramos

5 – Participação: Se envolva. Burning Man é o que fazemos. Nossa comunidade está empenhada em uma ética radicalmente participativa. Acreditamos que mudanças transformativas, seja no indivíduo ou na sociedade, só podem ocorrer por intermédio de uma profunda participação pessoal. Alcançamos o ser através do fazer. Todos estão convidados a trabalhar. Todo o mundo é convidado para participar. Nós fazemos o mundo real por meio de ações que abrem o coração.

6 – Inclusão radical: Todos são bem vindos. Qualquer pessoa pode ser uma parte do Burning Man. Saudamos e respeitamos o desconhecido. Não existem pré-requisitos para a participação em nossa comunidade (inclusive eles vendem um ingresso por menos da metade do preço para pessoas com dificuldades financeiras).

7 – Presentear: Oferecemos o nosso tempo e esforço livremente. Burning Man estimula atos de presentear. O valor de um presente é incondicional. Oferecer um presente não contempla um retorno ou uma troca por algo de igual valor.

8 – Co-operação: Juntos somos mais fortes. Nossa comunidade valoriza cooperação criativa e colaboração. Nós nos esforçamos para produzir, promover e proteger as redes sociais, espaços públicos, obras de arte, e métodos de comunicação que apoiam tais interações.

9 – Comunidade: Uma família de indivíduos, nós cuidamos uns dos outros. Valorizamos a sociedade civil. Os membros da comunidade que organizam eventos devem assumir a responsabilidade de bem-estar público e se esforçar para comunicar responsabilidades cívicas para os participantes. Devem também assumir a responsabilidade para a realização de eventos de acordo com leis locais, estaduais e federais.

10 – Imediatismo: Faça o agora valer, esteja aqui agora. Experiência imediata é, em muitos aspectos, a característica mais importante em nossa cultura. Procuramos superar as barreiras que se interpõem entre nós e o reconhecimento do nosso eu interior, a realidade dos que nos rodeiam, a nossa participação na sociedade, e o contato com um mundo natural superior aos poderes humanos. Nenhuma idéia pode substituir esta experiência.

Dizem que depois de participar do evento muitas pessoas entram em choque ao voltar para a rotina normal. Durante o evento elas têm a chance de experimentar um estilo de vida, uma forma de pensar e um ideal completamente diferente das nossas sociedades padrões e que isso faz as pessoas re-questionarem muitos valores e escolhas na vida. Algumas pessoas dizem sentir a vontade de ficar pra sempre no Burning Man.

Ainda não sei como vou me sentir. Mas pelo que ouço e leio me parece que esse evento tem uma capacidade incrível de transformar as pessoas para melhor, assim como uma longa viagem pelo mundo. O único problema é que ele ocorre por um período muito curto, e é aqui está a grande diferença de uma longa viagem.

Quando voltar dessa experiência incrível eu conto pra vocês. Fica ligado.


Fontes: Wikipedia, Mundo educação e Sua Pesquisa

Créditos das fotos: Duncan Rawlinson e outros desconhecidos 

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Carol Fernandes

IDEALIZADORA

Uma virginiana certinha da pá virada, que virou de vez depois de viajar o mundo e decidiu que só ia fazer o bem. Criou a ViraVolta porque acredita que viajar o mundo transforma as pessoas e as pessoas transformam o mundo. Não escreve rebuscado, poético ou certinho, mas fala com a alma e o coração.​

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