Como fazer a volta ao mundo com 38 dólares por dia

AS PESSOAS TENDEM A PENSAR QUE FAZER A VOLTA AO MUNDO É CARO POIS ELAS USAM OS GASTOS DE SUAS FÉRIAS COMO REFERÊNCIA. E esse é um grande erro! Como eu sempre falo aqui na ViraVolta, viajar por longo prazo é completamente de viajar de férias. A dinâmica da viagem muda e os padrões de gasto também. A média de gastos de brasileiros no exterior em viagens de férias, segundo uma pesquisa da American Express, é de 116 dólares por dia. Em um ano de volta ao mundo isso daria 42.340 dólares! Muito dinheiro! E ainda que a pessoa gastasse 80 dólares por dia, em uma ano isso daria 29.200 dólares por dia. Com o câmbio atual seria mortal. Mas a realidade é que viajantes de longo prazo realizam gastos bem menores do que esse, como os exemplos abaixo:
  • Um viajante de bicicleta tende a gastar de 8 a 15 dólares por dia.
  • Um viajante que viaja muito barato, usando a colaboratividade para eliminar gastos, tende a gastar 20 – 30 dólares por dia.
  • Um viajante que viaja barato realizando todos os gastos padrões, tende a gastar de 30 – 40 dólares por dia.
  • Um viajante de gastos médios, tende a gastar de 40 – 50 dólares por dia.
E para mostrar que é possível realizar uma volta ao mundo com um gasto diário bem menor do que gastamos nas férias, eu convidei a Marina Zoppei, para passar dicas de como ela fez para viajar por 2 anos gastando uma média de 38 dólares por dia. Lembra da Marina? Aquela menina que decidiu vender brigadeiros no almoço do trabalho para conseguir juntar mais grana pra viagem dos seus sonhos. Então, ela partiu para a sua aventura pelo mundo em janeiro de 2016, viajou sozinha por dois anos, visitou 45 países e retornou ao Brasil no final de 2017, aos 28, feliz da vida por estar de volta à sua família, mas cheia de aprendizados e um novo olhar para a vida.

Texto por Marina Zoppei

 

Como eu consegui realizar a volta ao mundo em 2 anos e voltar para o Brasil sem ter gastado tudo e sem trabalhar pelo caminho? Muito planejamento e topar qualquer perrengue era o meu lema. Foi possível sim! E sem sofrimento algum.

Para quem não lembra de mim, eu sou a Marina, a “menina do brigadeiro”, como fiquei conhecida depois de 5 meses andando pela Av. Berrini, no meu horário de almoço, para vender os meus 200 brigadeiros diários a fim de financiar uma parte da minha volta ao mundo. Aqueles foram tempos de sério desespero, em que eu fui capaz de tudo para não desistir do meu sonho num cenário de baita crise econômica no Brasil, quando o dólar chegou a R$4,00 (!!!). Isso foi em 2015, e mal sabia eu que os ensinamentos que minha volta ao mundo me trariam, começavam antes mesmo dela oficialmente ter início, em janeiro de 2016.

Eu não só consegui juntar de volta parte do dinheiro que foi para o ralo com a alta do dólar, mas também aprendi técnicas incríveis de conversação para “vender o meu peixe”, engajar pessoas no meu projeto e mais um mega intensivão de estratégias de marketing e negócios que nem o meu diploma em administração de empresas na FGV deram conta. De quebra, essa fase pré-viagem também me ensinou muito sobre algo que eu iria revisitar ainda com mais profundidade e alta frequência durante os meus dois anos fora: a valorizar cada moeda de dólar no meu bolso.

Eu brinco, mas realmente, uma volta ao mundo é uma experiência tão, mas tão intensa na nossa vida, que é como se você juntasse 10 anos de aprendizados em 2. Se eu listasse tudo que eu aprendi sobre mim mesma e sobre o comportamento humano nesse periodo, não sairíamos daqui hoje. Por isso, escolhi somente um tema polêmico que sempre me perguntam de primeira, para escrever: dinheiro.

Eu juntei 33 mil dólares para ficar 1 ano e meio viajando, mas esse dinheiro não só rendeu por quase 2 anos como eu ainda voltei com dinheiro sobrando, pois ao todo gastei 28 mil dólares (ou seja, 14 mil dólares por ano). Não, eu não trabalhei pelo caminho (apesar dessa ser uma ótima alternativa). Sim, cada dólar era um dinheirão pra mim, e eu lutava com unhas e dentes nas negociações e economizava em tudo. Foi difícil? Sim. Foi sofrido? Com certeza não! Em 2 meses eu já estava acostumadíssima e até pegando gosto por essa vida simplóóóóória. O que ajudou também foi que a maioria das pessoas que eu conhecia pelo caminho também viviam assim, e logo logo eu já estava me sentindo acolhida e distribuindo dicas para os outros viajantes.

Não tem milagre pessoal. Planejamento, planejamento, planejamento. Truques, truques, truques. Essa primeira parte eu posso ajudar muito pouco, cabe a cada um de vocês, mas a segunda eu posso e devo!

23 TRUQUES QUE EU USEI PARA FAZER A VOLTA DO MUNDO VIAJANDO BARATO:

DICA 1 – Escolha países que são mais baratos. Você vai se surpreender com os países que você vai conhecer, ao invés de ir pra França ou Inglaterra. Armênia? Uzbequistão? Sri Lanka? Ué, porque não?

DICA 2 – Prefira viajar por terra e sempre com transporte publico. Pra que ficar brincando de ping pong pelo mundo? FIque em uma região por mais tempo e a explore com calma. Ao invés de ir de Singapura para Barcelona e depois Cape Town, separe o seu roteiro por regiões. Se está na Tailândia, aproveite para viajar por terra pelos países ao redor, ao invés de pegar um voo para o novo destino da moda. Outra coisa importante: sempre se force a lembrar de que você não está numa corrida. Transporte públicos normalmente demoram mais, mas quem aqui está com pressa? Eu cheguei a viajar de ônibus e balsas por 36hrs gastando menos que 5 dolares ao invés de pegar um voo de 50 minutos que custava 120 dólares.

DICA 3 – Tenha tolerância, paciência e bom humor para passar perrengue. Uma situação que parece ser difícil no início, você vai tirar de letra depois de um tempo. Passar “perrengue” ficou tão normal e rotineiro que no final eu nem via como perrengue, e sim como uma escolha minha para gastar menos e viajar mais. Foram inúmeras as loucuras que eu fiz para não ter que gastar o meu suadinho dinheiro.

DICA 4 – Diga mais “Sim”! Larga dessas frescuras que a vida nos ensina e se permita experimentar outras coisas. Hostel? Sim! Carona? Sim! Cozinhar? Sim! Aproveite as oportunidades de economizar e ainda sair da sua zona de conforto. Eu passei dois anos em quartos compartilhados e acampando e estou aqui, vivinha da silva para contar as histórias. A minha experiência com hostels é tão grande que eu até ganhei 500 euros por uma consultoria que eu fiz para melhorar o serviço de um hostel que eu estava ficando.

DICA 5 – Vá para países que não precisam de vistos. Eu particularmente não segui isso à risca porque queria ir para países que eu não conhecia antes de partir, e alguns deles precisavam sim de vistos, que eram caros à beça. Foi uma escolha que eu fiz – cheguei a gastar quase 1000 dólares só em vistos durante a viagem – depois economizava no resto, mas se você puder priorizar, escolha os países que você não precisará pagar pelos vistos.

DICA 6 – Trabalhe em algum hostel em troca de acomodação e refeições. Eu fiz isso somente por 40 dias na Espanha, porque estava tão cansada de viajar que queria ficar parada em um lugar só por um tempo. Já que ia ficar parada numa cidade, é melhor ficar sem pagar né! Eu optei por juntar todo o dinheiro da viagem antes de partir por que trabalhar durante a viagem acaba te deixando “preso” por um tempo em alguns lugares, e eu queria aproveitar o clima bom em cada região ao máximo. Se eu estivesse trabalhando em um hostel durante o verão na Europa, por exemplo, limitaria os lugares que eu poderia visitar antes do tempo esfriar. Essa foi a maneira que eu escolhi, mas conheci dezenas de viajantes que trabalharam por ai e dependiam disso para continuar viajando. Outra dica: ao invés de pagar as taxas de inscrições nesses sites que oferecem esses “bicos”, vá você mesmo atrás da recepção do hostel e pergunte: vocês estão precisando de ajuda?

DICA 7 – Procure sair para beber somente em ocasiões especiais. Foi uma surpresa até para mim, mas esses foram os dois anos que eu menos bebi na minha vida. Bebi tão pouco que adotei esse estilo de vida depois que eu voltei para o Brasil. É possível sim se diverter horrores tomando água.

DICA 8 – Entre para o couchsurfing. Eu usei pouco e me arrependo. O couchsurfing não só te economiza na acomodação como também te apresenta pessoas maravilhosas pelo mundo. Se você tiver sorte como eu, muitas delas não medem esforços para te agradar e até te buscam no aeroporto, cozinham um prato típico pra você experimentar e te levam para passear. Os meus hosts todos foram maravilhosos e eu até consegui outras estadias e passeios de graça por que eles conheciam o tio do primo da namorada…

DICA 9 – Sempre ande com uma garrafa de água e vai enchendo o refil. Parece uma coisa besta, mas o tanto de dinheiro que eu economizei porque não comprava refrigerantes e bebidas toda hora deve ter sido estrondoso.

DICA 10 – Forme grupos para fazer passeios. Evite “tours” e não tenha pressa. No Tajiquistão eu demorei 3 dias para achar mais 4 pessoas para atravessar a Pamir Highway comigo e com isso economizei uma bolada. O mesmo ocorreu para safaris na África e travessias de barco. Para ir para a Islândia eu demorei 1 ano e meio para achar mais 4 pessoas para dividir as despesas comigo.

DICA 11 – Aproveite os mimos de graça da hospedagem. Nos hostels, às vezes tem uma bacia de coisas deixadas para trás pelos outros viajantes. Depois que eu descobri isso, nunca mais tive que gastar dinheiro com macarrão, tampão de ouvido, pasta de dente, shampoo e derivados.

DICA 12 – Negocie para tudo e negocie de novo, de novo e de novo. Para quem viaja 2 anos, 1 dolar a mais por dia faz MUITA diferença. Coisas simples como pedir desconto nos hostels e no aluguel da moto pode fazer milagres.

DICA 13 – Sempre ande com os locais. Eles sabem os preços corretos de tudo e te indicam quando você está correndo risco de pagar mais caro por alguma coisa. Antes de pagar pela passagem de ônibus, procure checar com uma pessoa de lá qual é o preço justo que se deve pagar pelo trajeto. Nessas horas tem sempre um espertão querendo cobrar até 10 vezes mais caro para o “turista rico”.

DICA 14 – Cozinhe. Sempre que possível, coloque a mão na massa ao invés de comer em restaurantes. Quando eu ficava mais do que 4 dias em um local, eu sempre tentava cozinhar. Para estadias menores do que 3-4 dias, eu não achava que valia muito a pena porque depois eu teria que carregar as compras de supermercado na mochila, mas tem gente que leva a comida na mochila e tá valendo!

DICA 15 – Viaje durante a noite. Sempre que tiver a opção de pegar trens e onibus noturnos em trajetos longos, faça. Além de não perder o dia todo dentro do ônibus, você ainda economiza na estadia.

 

DICA 16 – Não compre um simcard em todos os países. Já que é pra sair da zona de conforto, aproveite para se desconectar do mundo também. Ter internet à disposição sempre ajuda muito para achar informações na estrada, então eu comprava simcard somente em lugares em que eram extremamente baratos. Caso contrario, não. Eu ia caçando wifi por ai numa boa e foi ótimo para eu aprender a viver o presente e estar conectado com as experiências do agora.

DICA 17 – Evite taxis a qualquer custo. Do aeroporto para o centro da cidade sempre existem opções de transporte publico. Ande. Vá de bicicleta. Taxi somente em situações que não tem jeito mesmo. Uma vez na Indonésia eu andei 3 km com a mochila nas costas para não ter que pagar uma fortuna em um taxi que não tinha taximetro – na qual o preço era “tabelado”. Se entrar em um desses, sempre negocie o preço antes da partida.

DICA 18 – Peça carona. Esse tópico é polemico, mas eu recomendo para quem tiver experiência e estiver aberto a tentar uma nova experiência. Eu peguei várias caronas e só tive experiências ótimas.

DICA 19 – Não fique hospedado longe do centro. Às vezes, o hostel mais barato é aquele longe pra danar do centro. Os dolares economizados acabam se anulando quando você tem que pagar pelo transporte para chegar até o centro. Dependendo da diferença no preço, esse é o tipo de economia que não vale a pena.

DICA 20 – Não fique comprando lembrancinha por onde passa. Eu seeeeiii que é difícil, mas se segure. Tenha em mente que as melhores lembranças são aquelas guardadas na sua memoria.

DICA 21 – Usurfrua de toda a ajuda que te aferecerem. Aquele amigo te convidou para passar uns dias na casa dele? Te ofereceram um jantar? Te convidaram para um casamento? Vá!

DICA 22 – Não faça reservas de nada. Essa provavelmente é uma das coisas que as pessoas tem mais dificuldade de se acostumar, mas acredite: o seu roteiro vai mudar da noite para o dia – ou de hora em hora – inúmeras vezes e quanto menos você engessar o seu trajeto, menores são as chances de você perder dinheiro com cancelamentos e mudanças de planos. Dessa forma você também se deixa livre para conseguir um desconto no check in ou até mesmo mudar de planos porque você conheceu uma pessoa incrível no ônibus que te ofereceu estadia. A vida na Estrada é imprevisível. Nunca se sabe onde você vai parar.

DICA 23 – Anote todas as suas despesas. Sabe aquele truque do regime que anotar o que você come durante o dia até ajuda a comer menos? O mesmo acontece com os gastos! Mesmo que a recompensa futura aparentemente tenha menos valor do que a recompensa instantânea, quando você anota, o seu cérebro para, reflete e relembra o seu objetivo: viajar por um tempo longo. O importante não é ter muito dinheiro, e sim aplicá-lo nas coisas que mais te interessam. Saber como você gasta o seu dinheiro durante a viagem é importantíssimo para o controle.

Para concluir, devo dizer que cada um tem o seu ritmo e sei que nem todo mundo consegue ficar nessa economia o tempo todo. Eu mesma, uma hora ou outra, me dava de presente experiências que eram mais caras mas que eu achava que valiam a pena: a minha visita à Chernobyl, o safari no Masai Mara e a expedição de barco pelas Filipinas, foram mimos que eu aproveitei e que provavelmente “se pagaram” porque eu tive todo o cuidado de me planejar e economizar nessas pequenas coisas.

Como diz a Carol, VAI QUE DÁ!

MARINA ZOPPEI

Desbravadora de mais de 100 países e dos cantinhos mais inóspitos desse nosso mundão que não liga para um perrengue Por 2 anos foi adepta da viagem solo pelo mundo, mas não dispensa uma boa amizade de estrada. Conheça mais: Insta: @mazoppei.

Como eu sempre falo, não existe um formato ideal de viagem. Cada viajante vai viver uma jornada diferente e é impossível encontrar formatos e soluções para que qualquer um consiga realizar essa incrível experiência de vida dentro da sua realidade financeira.Se você precisa de ajuda na realização desse sonho veja como a ViraVolta pode te ajudar.

Créditos das fotos: Mariana Zoppei

curtiu? então compartilhe!

Compartilhar no facebook
Facebook
Compartilhar no google
Google+
Compartilhar no twitter
Twitter
Compartilhar no linkedin
LinkedIn

Carol Fernandes

IDEALIZADORA

Uma virginiana certinha da pá virada, que virou de vez depois de viajar o mundo e decidiu que só ia fazer o bem. Criou a ViraVolta porque acredita que viajar o mundo transforma as pessoas e as pessoas transformam o mundo. Não escreve rebuscado, poético ou certinho, mas fala com a alma e o coração.​

INSTAGRAM

Copyright © 2019 ViraVolta. Todos os direitos reservados.

KIKI AROUND THE WORLD

Conheça o nosso projeto de volta ao mundo.

INSTAGRAM

KIKI AROUND THE WORLD

Conheça o nosso projeto de volta ao mundo.

Copyright © 2019 ViraVolta. Todos os direitos reservados.

Rolar para cima