IMAGINA QUANTAS EXPERIÊNCIAS DIFERENTES VOCÊ NÃO VAI PODER VIVER ENQUANTO RODA PELO MUNDO? ATÉ MESMO SER TATUADO PELAS MÃOS DE UM MONGE. O mundo está repleto de culturas, hábitos e realidades diferentes. Eu sempre falo, o mais importante quando viajamos é estarmos abertos para experimentar. Quanto mais experimentamos, mais abrimos nossa mente e quebramos nossos paradigmas e é isso que nos faz crescer.
A Mariana Zanini e o Eduardo Golçalves, do A Toalha, decidiram então viver uma experiência inusitada durante a aventura deles. Os dois, que partiram para uma aventura de dois anos pelo mundo, decidiram ser tatuados por um monge na Tailândia e decidiram compartilhar aqui na ViraVolta essa experiência. Quem sabe você não anima fazer uma na sua viagem pelo mundo.
Texto de Mariana Zanini
Eu sou uma grande fã de tatuagens. Quando pequena, fazia desenhos pelo corpo só imaginando o dia em que seria dona do meu nariz e pudesse entrar para o clube dos tatuados. Cresci, fiz algumas artes pelo corpo (para desespero dos meus pais) e, quando saí para a viagem de volta ao mundo, já parti com a ideia de ganhar mais alguns rabiscos por aí.
Algumas culturas têm a tatuagem não apenas como um ornamento, como um desenho de valor estético: para eles, representa proteção, uma espécie de amuleto contra forças negativas. Esse é o caso da Sak yant, tatuagem mística comum em alguns países do Sudeste Asiático, como a Tailândia e o Camboja. Você já viu um monge budista tatuado? Pois é, eu também não tinha visto até vir à Tailândia, onde eles desfilam por aí com esses desenhos que contrastam com seus vibrantes mantos laranja. Mas essa tatuagem não é restrita aos religiosos (e nem o seu sentido é, necessariamente, religioso): basta reparar que muitos homens e mulheres tailandeses também carregam uma Sak yant com o intuito de proteção.
Quem nos contou que era possível fazer uma tatuagem com um monge foi a Amanda, brasileira que conhecemos em Bangkok. Depois de alguns desencontros, conseguimos o contato de um templo em Chiang Mai e lá fomos nós, prontos para fazer a nossa Sak yant com um monge às vésperas do festival Loy Krathong, na capital espiritual da Tailândia.
A experiência foi surreal. Para não atrair um público muito grande e evitar que a Sak yant vire uma atração turística (como aconteceu em um templo de Bangkok que atende 50 pessoas por dia), todas as informações do templo ficam em sigilo. Só tínhamos o contato do motorista de tuk-tuk figura que nos levou até lá. Chegamos ao templo e, numa salinha decorada com imagens de Buda, flores, incensos e um altarzinho, o monge — que não falava inglês — nos atendeu. Escolhemos os desenhos e o processo começou. Fizemos uma prece em conjunto, demos nossa oferenda e o Edu foi primeiro. Durante todo o tempo o monge entoa mantras, o que causa uma sensação incrível de relaxamento.
Quase meia hora depois, chegou a minha vez. “E dói?”, vocês devem estar se perguntando. Bem, eu tenho outras cinco tatuagens, mas essa foi, de longe, a que mais doeu fisicamente. Mas é suportável, e quando você pensa no significado, tanto de portar uma Sak yant quanto da cerimônia em si, a dor fica em último plano.
Depois que fizemos as tatuagens, procuramos um monge que falasse inglês pra nos ajudar a entender melhor a simbologia delas. E aqui, cada detalhe importa. Os escritos em ambas são mantras de proteção em uma versão muito antiga do idioma cambojano. O desenho do Edu forma a silhueta de Buda, e a lua crescente que seria a “cabeça” remete à luz que nos guia nas horas mais difíceis. Já o desenho nas minhas costas representa os cinco Budas (os cinco círculos com espirais) e a figura maior no centro significa, simplesmente: tudo no mundo — seres humanos, animais, vegetais, energia; passado, presente e futuro — está conectado.
À primeira vista, eu, que estou acostumada com tatuagens perfeitas e super simétricas, estranhei um pouco o resultado da minha. Mas é bom ter em mente que: 1) os monges que fazem a Sak yant não são tatuadores profissionais; 2) como eu disse lá em cima, o sentido dessa tatuagem ultrapassa o valor estético; 3) se você quiser uma tatuagem esteticamente perfeita, procure um estúdio que também faça o procedimento com bambu, peça para ver fotos e converse muito com o tatuador antes de fazer a sua. Hoje, meses depois, eu estou apaixonada pela minha e fico feliz toda vez que penso na simbologia e na experiência incrível que foi fazê-la!
Já tivemos alguma experiências inesquecíveis nesta viagem, mas essa, sem dúvida, foi das mais especiais. E agora vamos carregar esse amuleto para sempre, com muito carinho!
MARIANA ZANINI E EDUARDO GONÇALVEZ
Mari e Edu trocaram a louca rotina paulistana pelo combo mochila, mapa e toalha. Na estrada desde maio de 2015, planejam viajar por África, Ásia, Europa e América Latina por 2 anos. Conheça mais: A Toalha / The Towel.
Viu só. Na vida é preciso abrir a mente para tudo. Até mesmo para as tatuagens.
Créditos fotos: Mariana Zanini
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Carol Fernandes
IDEALIZADORA
Uma virginiana certinha da pá virada, que virou de vez depois de viajar o mundo e decidiu que só ia fazer o bem. Criou a ViraVolta porque acredita que viajar o mundo transforma as pessoas e as pessoas transformam o mundo. Não escreve rebuscado, poético ou certinho, mas fala com a alma e o coração.