[intro] Tem uma sábia frase que eu sempre falo na ViraVolta: O não você já conhece como resposta, agora o sim pode ser sempre uma supresa![/intro] Para agarrarmos todas as oportunidades que podem trazer experiências incríveis, seja na vida ou em uma viagem, precisamos ser cara de pau! E pra isso o boca a boca é fundamental.
Vejo sempre as pessoas preocupadas com qual plataforma deveriam usar para conseguir um trabalho em troca de hospedagem, ou até mesmo para buscar um bico, e por mais que as plataformas ajudem, acho que elas esquecem do nosso maior poder: a comunicação. Quer conseguir algo? Vá conhecer pessoas no local, faça perguntas, mostre seu interesse, peça, ofereça… Não fique dependendo das plataformas. Já até compartilhei aqui uma história de um viajante que virou instrutor de mergulho durante a viagem somente por ter sido cara de pau! E claro, por ter se dedicado à experiência.
E dessa vez eu convidei a viajante Marcela Moreira, do blog Vá e Seja Você, que já viajou 11 meses, visitando 23 países com um gasto médio de 30 dólares por dia, pra compartilhar o dia em que ela foi viver por um mês em uma ilha paradisíaca sem gastar 1 real pra isso, somente usando o poder do boca a boca.
Texto por Marcela Moreira
Tenho 32 anos e estou vivendo um período sabático. Dei um tempo na carreira de publicidade e resolvi me jogar no mundão. Tinha o sonho de viajar, porém muitos medos… Abandonar uma carreira de mais de 10 anos? e meus amigos e familiares? A cobrança da sociedade de ter um apartamento e construir família. Enfim, depois de 9 meses de terapia entendi meus medos, enfrentei e fui com eles mesmo. Comprei uma passagem de ida, já estou no meu 11° mês viajando e falo com toda a certeza que foi a melhor decisão da minha vida.
Sempre gostei muito de viajar, meus finais de semana e feriados eram super esperados para explorar um novo lugar. Foi quando eu voltei da minha viagem de férias da Tailândia em 2017 que eu percebi que os 30 dias por ano não seriam suficiente para conhecer os lugares que gostaria e era hora de tomar uma decisão importante. Me planejei financeiramente e emocionalmente e dei início a minha trip em fevereiro de 2018.
O plano inicial era conhecer o maior número de países possíveis, mas logo no meu quarto mês viajando percebi que aquilo não era para mim. Me vi exausta, as decisões me consumiam emocionalmente, cada nova cidade ou país tudo mudava e era muita coisa a se preocupar: meio de transporte, alimentação, hospedagem, passeios turísticos, fazer amigos, despedidas… ahn como as despedidas mexiam comigo. De repente me vi num momento depressivo e não me dei o direito de sofrer, já que eu estava vivendo o tão sonhado sabático.
Mesmo participando do workshop do Projeto ViraVolta e já sabendo que uma viagem de férias é completamente diferente de uma a longo prazo, só quando eu realmente iniciei que eu vivi isso, e demorou um pouco para mudar o mindset.
Foi assim que eu percebi que estava sentindo falta de uma rotina. Eu queria parar e ter um lugar para chamar de casa, mesmo que fosse por pouco tempo, sem ter que ficar mudando com frequência, não ter que me preocupar em deixar minha mala aberta, ter horário para acordar e dormir, e fazer algo de útil sem ser apenas viajar. Então eu me joguei em cursos, voluntariados. Nada contra, mas colecionar carimbos já não estava me satisfazendo, entendi que não era meu estilo de viagem, queria mais… fiz curso de massagem tailandesa, tirei minha certificação em mergulho, fiz work exchange numa fazenda com elefantes, morei na praia, passei um mês no monastério, fiz curso do silêncio num ashram na Índia e passei um mês numa fazenda colhendo azeitonas e participando de meditações na Toscana.
Foram muitos perrengues, muitas quebras de pré-conceitos, muitos aprendizados e hoje o que eu quero chamar atenção foi para um work exchange que caiu no meu colo sem eu procurar e aquela experiência me ensinou tanto.
COMO EU CONSEGUI UM TRABALHO EM TROCA DE HOSPEDAGEM NO BOCA A BOCA?
Estava na Malásia e comecei explorar o país pelos olhos dos locais, perguntando os seus lugares preferidos e fui parar em ilhas paradisíacas pouquíssimo exploradas por brasileiros. Cheguei em Palau Kapas para ficar dois dias, estava com o dinheiro contado para isso e de repente tudo mudou. Me apaixonei pela vibe e natureza do lugar. Toda aquela calmaria estava me fazendo muito bem e eu resolvi estender meus dias.
Meu dinheiro acabou e essa ilha era tão pequena e com poucos turistas que não tinha ATM, e nenhum lugar aceitava cartão de crédito. E na busca por tentar trocar dinheiro apareceu uma oportunidade de voluntariado, mas vale ressaltar que eu não estava procurando.
Cheguei ao restaurante/hotel e havia alguns amigos que trabalhavam ali, como disse, nos poucos dias já conhecia muita gente da ilha, e me ofereci para ajudar, enquanto esperava o dono do local para ver se ele trocava meu dinheiro. Meus amigos brincaram dizendo que eu estava procurando um trabalho já que eu ofereci ajuda enquanto esperava, e de repente o dono me perguntou se eu queria, Por que não? Morar ali naquele paraíso não seria uma má ideia. Iniciei no dia seguinte com planos para ficar uma semana, trabalhando 6 horas por dia em troca de hospedagem e alimentação.
Tinha a opção de pegar um boat ir para o continente sacar dinheiro, comprar o que queria mas eu estava tão feliz ali e tinha tudo: casa, comida, uma rede e um oceano todo na minha janela e assim morei um mês numa ilha paradisíaca sem gastar 1 real.
Percebi que o dinheiro é importante sim, mas que eu preciso tomar cuidado quando ele influencia negativamente nas minhas escolhas. Coincidência ou não, as experiências mais transformadoras que tive até agora não foram as que gastei mais dinheiro. E de brinde descobri e aceitei um equilíbrio na minha viagem sabática: Viajar um tempo & fazer algo para me sentir útil (seja estudando uma habilidade diferente ou trabalhando). E assim sigo minha viagem.
Agora te pergunto, qual é seu impeditivo? O que te trava? Para mim era o dinheiro, e no final eu tirei uma super lição com ele simplesmente me abrindo para as possibilidades que bateram na minha porta e que eu estava disposta a aceitar.
Há várias oportunidades para viajar gastando pouco: plataformas de work exchange; couchsurfing; pedir carona; ficar em casa de amigos… etc.
Porém muitas vezes esquecemos que uma simples pergunta pode ser o maior obstáculo em você viver uma experiência transformadora e realizar um sonho.
Eu tive a sorte de não precisar perguntar, mas a minha ação de ajudar sem ter o objetivo do trabalho já mostrou para eles meu interesse, e isso me fez abrir a mente para quantos outros lugares estão precisando de alguém para voluntariar, ou até mesmo trabalho. E nós ficamos presos a “Qual site você conseguiu tal trabalho?”, “Como você descobriu essa ilha?”, “Qual aplicativo você usa?” e, simplesmente, esquecemos do poder do boca a boca.
O poder do boca a boca pode fazer você descobrir lugares, fazer amigos, conseguir empregos, ou até morar no paraíso. Não alimente as desculpas e sim encontre soluções!
Esteja aberto ao desconhecido, se jogue, erre, acerte, volte, recalcule a rota, viva as experiências. Uma frase que eu sempre digo: Eu nunca teria capacidade de planejar tudo que eu vivi esse ano. Mudei meu estilo de viagem várias vezes, fui dos países mais pobres como Nepal e Índia para Maldivas e fiz couchsurfing no Qatar com uma pessoa que se tornou uma das minhas melhores amigas hoje. Se eu fosse planejar isso ou esperar o momento perfeito nunca teria vivido essas experiências.
Conhece aquele ditado? Feito é melhor que perfeito. Eu digo que tudo acontece como deveria acontecer, basta estarmos disponíveis.
Fecho com meu lema: vá e seja você =)
Já ouvi tantas histórias incríveis que viajantes viveram em suas viagens somente por estarem abertos, por não terem vergonha de perguntar as coisas, de pedir. Então vai lá, seja cara de pau. Afinal, o que você tem a perder com isso?
[obs] Créditos foto: Marcela Moreira [/obs]
curtiu? então compartilhe!
Carol Fernandes
IDEALIZADORA
Uma virginiana certinha da pá virada, que virou de vez depois de viajar o mundo e decidiu que só ia fazer o bem. Criou a ViraVolta porque acredita que viajar o mundo transforma as pessoas e as pessoas transformam o mundo. Não escreve rebuscado, poético ou certinho, mas fala com a alma e o coração.