Na estrada depois dos 60, sozinha!

E QUEM DISSE QUE NÃO DA PRA MULHER VIAJAR SOZINHA? ATÉ MESMO APÓS OS 60!
Quando fiquei sabendo a história da Ira, do blog Feminino 60, fiquei encantada. Mesmo sem ter um histórico de viagens em sua vida, ela decidiu começar a viajar após os 60 anos. E não parou mais. Nem a idade e nem o fato de estar sozinha a impediram de viver experiências incríveis pelo mundo. Se você deixa de fazer por uma dessas razões você não pode deixar de ler esse texto.

Hoje, aos 64 anos, ela está cheia de novas histórias pra contar e já planeja uma viagem mais longa. Desde 2011, ela já fez 4 viagens de 4 meses de duração, visitando a Reino Unido, Itália, França, Suíça, Holanda, Bélgica, Alemanha, Rússia, Irã e Estados Unidos. Então convidei a Ira para compartilhar sua história. Afinal, nunca é tarde para realizar um sonho.

Texto de Iracema Genecco

 

Sabe um desses desejos que acompanham a gente há tempo e que já acostumamos a pensar nele de vez em quando, mas sem nem botar mais muita pilha? Pois eu estava chegando na soleira da porta dos 60 com este: viajar pelo mundo! Ele quase fazia parte da minha vida e ainda parecia tão distante e impossível como nos meus 20 anos. Nada como seguir o exemplo dos filhos: minha filha tinha largado o emprego para fazer um mochilão pela América Latina, e eu pensei com meus botões “por que não”?

Era a faísca que faltava para reduzir a pó os empecilhos reais ou imaginários que me prendiam. O sonho começava a se transformar em projeto. Do meu jeito, que não sou de grandes planejamentos. Decidi me dar de presente nos meus 60 anos uma comemoração de aniversário em Londres, onde minha filha estava morando por um período. De quebra, sairia a conhecer um pouco do mundo.

Tive que pensar em dinheiro, passagem, alojamento, deslocamentos… Alguns cliques no Google deram uma ideia geral e o orçamento básico inicial foi sendo montado com cortes nas despesas, mudança de planos e de hábitos, suspensão de supérfluos e ajustes nas finanças. Sensação estranha ver um sonho antigo tomando forma, misto de alegria e incredulidade com pavor. Que só aumentou quando me vi saindo da imigração no aeroporto de Londres.

Viagens

 

Venho colecionando experiências desde aquela primeira viagem, em 2011, que durou quatro meses e me levou pelo Reino Unido, Itália, França e Rússia. No ano seguinte, em 2012, fui para o Irã e a Suíça, acompanhando uma amiga em visita aos filhos e, de lá, parti sozinha de novo para a Holanda, Bélgica e França. Em 2013, mais quatro meses entre a Alemanha e a Itália. Para reduzir os custos, comecei a trocar trabalho por casa e comida. E desse mesmo jeito, gastando praticamente só com as passagens, fiquei quatro meses nos Estados Unidos, no ano passado, morando em casas de família.

MEDOS

Os meus muitos medos, na verdade, viajaram comigo quase clandestinos. Eles se revezaram durante o tempo em que eu rodava com minha mala por cidades, países e continentes. Mas, eles me ensinaram sobre mim mesma, sobre quem eu sou, sobre o que me assusta, como ajo e reajo em situações e ambientes desconhecidos. Fui me sentindo mais forte a cada pequena conquista. Me descobri corajosa.

Medo é instinto, melhor manter. Se prestar atenção, ele ajuda a ficar esperta, “sempre alerta” como o lema dos escoteiros. Bom manter as mesmas precauções que adotaria em qualquer localidade no Brasil. Nada de dar bobeira em ambiente que não se conhece nem fala a língua, correr risco que não se enfrentaria na própria cidade. Só não dá pra se deixar levar pelos medos, os imaginários quase sempre são mais apavorantes que a eventual situação a ser enfrentada.

Idade

 

Viajar vale a pena em qualquer idade. Quando se começa, vira febre que só cura batendo a porta da casa e saindo em direção ao mundo. Espero ser o empurrãozinho que falta para quem ainda não pegou a estrada sozinha por achar tudo meio assustador. Principalmente, se um desses medos estiver relacionado à idade. Em nenhum momento senti que não ser mais jovem tenha atrapalhado minhas andanças.

Pelo menos na Europa, vi que é bastante comum encontrar pessoas de mais idade viajando com suas mochilas ou equipamentos esportivos, sozinhas, casais, pequenos grupos. Benditos trilhos dos trens e suas estações ligando vários países! Facilidade da qual fomos privados no Brasil.

Quem estiver com a saúde em dia, consegue arrastar sua própria mala e fazer longas caminhadas. Se pretende ficar fora por um período mais longo, por garantia, melhor fazer uma avaliação médica e odontológica. Importante também é levar um bom seguro para os meses em que pretende ficar fora, além dos medicamentos usuais. Ah, e sapatos confortáveis.

Comunicação e amizades

 

Sou tagarela, puxar assunto em albergues, ônibus, barcos ou na rua me rendeu boas dicas, boa companhia e amizades. Com algumas, continuo mantendo contato. Larissa, uma russa a quem abordei na rua na cidade francesa de Nice, recebeu-nos semanas depois em Moscou, minha filha e eu. Fez papel de guia, apresentou-nos sua família e ajudou a montar nossa programação em São Petesburgo. Sem ela, teríamos aproveitado muito pouco da Rússia.

Num ônibus entre as cidades italianas de Catânia e Siracusa, na Sicília, conheci a alemã Elke. Ela me convenceu a desistir da minha planejada caminhada ao vulcão Etna para acompanhá-la até a Calábria, para onde ela estava indo ao batizado de uma neta. Esta mudança de planos me proporcionou 15 dias de encantamento em Tropea, cidadezinha daquelas encarapitadas sobre uma rocha à beira-mar.

Atravessei a França de Sul a Norte. Com poucas palavras soltas que eu lembrava dos meus tempos de ensino médio fiz amizade com uma francesa que não falava um ovo em inglês. Coisa de malucas: cada uma comentava e respondia de um jeito, eu em inglês, ela em francês. Passeamos, pegamos trem, fomos para outra cidade, ela me fez até pedir carona na estrada para voltar.

Na Grécia e na Rússia, países em que encontrei poucas pessoas que falassem inglês, foi a vez de empregar a mímica, gestos, grunhidos e, por fim, apontar com o dedo. No Irã, para onde fui com uma amiga dando início à minha nova aventura no ano seguinte, fiquei surpresa em ver jovens se aproximarem querendo conversar para utilizar o inglês que quase todos falavam muito bem. Um inglês elementar e a ajuda da mímica quebram quase todos os galhos. Mas, claro, quanto maior for o nível de fluência, mais longe se pode ir e mais se aproveita.

Aprendizados

Fui me descobrindo junto com os lugares que escolhi visitar. Sem uma amiga ao lado para tagarelar, na maior parte do tempo tinha que guardar para mim mesma as belezas, as curiosidades, as minhas impressões sobre tudo o que via e ouvia. Gostei de poder fazer isso no meu ritmo, sem horários, ficar mais nos lugares que gostei e simplesmente indo embora dos que não gostei.

Acho que o pai de todos os outros é o medo do desconhecido. Morria de medo de me perder nas ruas, de esquecer o endereço do albergue, de não saber o que fazer diante de uma situação inesperada. Surgiram imprevistos que contornei usando o pouco bom-senso e a muita sorte que Deus me deu.

Esqueci todo o dinheiro para os quatro primeiros meses da viagem da minha vida num bed & breakfast, em Londres; quando voltei, no final do dia, estava tudo intacto no mesmo lugar em cima da cama. Perdi passagem de bobeira; comprei outra. Dormi demais e perdi o navio para a Córsega; cancelei as reservas e mudei o itinerário. Cada episódio superado foi importante para me dar mais confiança.

Enfim, se um dos seus grandes sonhos é viajar, vai. Não deixe que seus medos atrapalhem. Há coisas importantes a descobrir lá fora e que valem para os períodos em que não se está viajando: desfrutar o presente, o aqui e o agora, o que nos rodeia; ver as coisas com os olhos de uma criança, com o encanto da primeira vez todos os dias; viver com bem menos coisas materiais do que antes; aprender que viver é uma viagem.

IRACEMA GENECCO

Achou que fazer 60 anos merecia um presente inesquecível e em grande estilo. Decidiu dar a si mesma um presente inesquecível: inventou de pegar uma mala e se jogar no mundo. Isso foi em 2011. Desde então, não consegue mais ficar sossegada em casa. Saiba mais: Feminino 60

Sabe o que eu também adoro nessa história? Não importa a idade, quando viajamos sozinho só ficamos sozinhos quando queremos. O mundo está cheio de pessoas aventureiras e abertas a compartilhar momentos e cada novo encontro pode trazer surpresas maravilhosas. Então não importa a sua idade. Se você sempre sonhou em viajar o mundo, nunca é tarde para viver esse sonho. Vai que dá!.

Créditos das fotos: Iracema Genecco e Isadora Pamplona

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