VOCÊ AGUENTARIA FICAR 10 DIAS SEM FALAR ABSOLUTAMENTE NADA, APENAS MEDITANDO? Pois foi o que eu fiz nesse último maio, bem no meio da minha gravidez. E eu posso dizer, foi a experiência mais difícil que eu já fiz na minha vida, mas também uma das mais interessantes, e eu fico feliz de ter ido até o final.
A primeira vez que ouvi falar sobre esses retiros de meditação foi durante a minha Volta ao Mundo, quando eu estava na Índia e conheci um Canadense que estava indo fazer um retiro do silêncio de 15 dias. Na época eu pensei: “Ele é louco! Eu jamais conseguiria fazer isso! Como assim ficar 15 dias em silêncio? Impossível!”. Aposto que você pensou a mesma coisa quando começou a ler esse texto. Ahahaha…
Realmente, eu não estava mentalmente evoluída na época pra viver essa experiência e naquele momento eu cometi uma falha comum que a maioria das pessoas fazem: se auto-limitar. Nós concluímos que não somos capazes de fazer diversas coisas e por isso nem tentamos, perdendo oportunidades incríveis de nos redescobrir. Mas desse mal já me curei e foi a minha viagem de 2 anos pelo mundo que me ajudou a mudar completamente esse mal hábito. Por isso eu sempre falo que uma longa viagem pode mudar sua vida.
Aquela informação do retiro do silêncio nunca tinha saído da minha cabeça. Nesse ano, quando eu vi a matéria de uma neurocientista de Harvard que provou que a meditação faz mudanças positivas no cérebro, a idéia de fazer o retiro do silêncio veio com toda a força. O Vipassana surgiu como uma indicação e eu fui direto me inscrever. No meio disso tudo surgiu a gravidez e eu quase desisti, mas após descobrir que várias grávidas faziam, comecei a pensar que se não fizesse agora não faria tão cedo e decidi arriscar. Sábia decisão.
A programação diária, pra você entender como é intensa a meditação.
É engraçado que a maioria das pessoas quando sabem que eu fiz isso se preocupam simplesmente com o fato de ter que ficar em silêncio. Mas o silêncio foi a parte mais fácil de todas. A verdade é que nós falamos demais, e um pouco de silêncio faz bem, pra gente aprender a escutar a nós mesmos, internamente. O mais difícil, não foi ficar em silêncio, nem acordar as 4 da manhã todos os dias, nem ter a alimentação regrada… O mais difícil era meditar! E meditar cerca de 6 a 8 horas por dia, dependendo do seu empenho. Nós não sabemos ficar tanto tempo quietos. Vivemos uma vida louca e acelerada e pedir pra ficar 1 hora parado, sem se mexer, apenas concentrando na meditação é simplesmente uma tortura.
Não foi fácil! Cada vez que o sino tocava para meditar eu queria sumir. Eu tava cansada de meditar. No terceiro dia à noite eu chorei, com vontade de ir embora e achando que eu não conseguiria ficar até o final. Nessas horas eu só me fazia uma afirmação: “Se você for embora nunca vai saber a verdade e depois vai se arrepender amargamente.” E foi esse pensamento que me manteve forte para não desistir. Mesmo assim, eu sofri até o 7º dia de retiro. Em nenhum momento foi fácil. No meu auge de desespero, quando eu não queria nem dormir, nem pensar, nem meditar, e já que eu não podia fazer nada além disso (ler? não pode, escrever? não pode…), eu peguei a minha necessaire e comecei a ler as embalagens de todos os produtos que estavam nela. E quando os produtos acabaram, eu pequei as minhas roupas e comecei a ler todas as etiquetas. Kkkk… Pra você ter noção do meu desespero.
Mas é preciso ter paciência, pois a evolução vem aos poucos. A primeira vez que eu consegui sentir o fluído de células atômicas do meu corpo durante a meditação, por volta do 4º dia, eu sai tonta da sala. Foi uma sensação indescritível. A partir do 7º dia a metodologia foi ficando cada vez mais clara e eu conseguia entender os benefícios da meditação. No 10º dia tudo fez sentido e mais uma vez eu chorei, mas dessa vez porque me sentia a pessoa mais feliz do mundo em ter chegado até o final e ter vivido aquela experiência tão incrível. O Vipassana só reforçou todas as escolhas que eu fiz quando voltei da viagem e o novo estilo de vida que criei. Além disso, trouxe mais serenidade pra minha vida, menos reações intensas e vai me ajudar a ser uma mãe melhor, pois eu vou ter que ter muita compreensão nesse momento tão difícil do início da vida de um bebê.
Por isso, eu recomendo o retiro Vipassana para qualquer um que queria evoluir física e mentalmente em busca de mais qualidade de vida. Mas lembre-se, só faça se você quiser genuinamente, pois vai ser muito difícil, você vai ter vontade de bater a cabeça na parede e de desistir. Mas se você chegar até o final, eu duvido que você vá se arrepender. Então, se você curtiu a idéia e ficou curioso, continua lendo o post que eu vou passar mais detalhes.
O QUE É VIPASSANA?
Existem vários tipos de meditação do silêncio pelo mundo, mas a Vipassana segue uma metodologia única no mundo todo. Você pode ler mais sobre ela aqui, mas eu vou dar a minha visão conforme a minha experiência.
Pra mim, a Vipassana é a meditação da física quântica, sem nenhuma conexão com qualquer vertente religiosa. Ela te ensina, através da concentração na respiração, a ver e perceber as coisas como elas realmente são e acontecem no seu corpo, através do seu fluido de células atômicas, para você trabalhar a sua mente para apenas perceber as sensações, sem se apegar, a fim de não gerar reações negativas para as suas células. Ela te ensina que tudo na vida é impermanente, sejam coisas boas ou ruins, tudo vem e passa, tanto no seu corpo quanto na sua vida. Com o tempo de prática, essa re-educação mental, começa a trazer benefícios diretos para o dia-a-dia da sua vida, te ajudando a perceber as coisas como elas são também na sua vida, sem gerar reações intensas de raiva, estresse, avidez, etc… E com isso você começa a ter mais auto-controle, se sentir mais equilibrado e em paz com você mesmo.
De todas as meditações que eu já experimentei (a tibetana e a japonesa), pra mim, a Vipassana é a mais intensa e ela vai te colocar em contato com o seu corpo e trazer uma consciência mental e corporal como você jamais teve antes.
O CURSO E PORQUE 10 DIAS?
No mundo todo a metodologia é a mesma e ela é transmitida através dos ensinamentos do Sr. S.N. Goenka, um birmanês que estudou a prática por 14 anos na Índia e acabou criando os centros de Vipassana no formato atual pelo mundo todo. Todas as aulas e palestras durante o curso são conduzidas por audios dele, com tradução para a língua local, mas sempre existe um professor para conduzir a prática e que orienta nas sessões de dúvidas.
Todo iniciante só pode fazer o curso de 10 dias. Mas porque não menos tempo? Pois é impossível aprender a técnica em menos tempo. Aprender a meditar é muito difícil. Uma pessoa que pratica apenas 10 minutos de meditação por dia vai levar muito tempo até dominar a prática e sentir efeitos de fato. Para aprender leva tempo, por isso, pedem-se 10 dias e tantas horas de prática. Em 10 dias você tem tempo de praticar com persistência, de errar e de entender como a prática realmente funciona.
Se você desistir no 4º dia ou no 8º dia vai dar no mesmo e você vai sair de lá sem entender muita coisa e no final vai ter desperdiçado seu tempo. Por isso, se começar, vá até o final!
O QUE SABER ANTES DE FAZER
O curso tem regras muito claras, que você vai ter que concordar no momento da sua inscrição. Por mais que a princípio algumas pareçam radicais, no final, elas fazem todo sentido, pois o objetivo é que você não tenha nenhuma distração pra sua mente e se concentre 100% no processo de aprendizagem da meditação.
Nos 10 dias você vai ter que seguir as seguintes regras:
- ficar em silêncio absoluto (com exceção das sessões de perguntas ao professor ou em caso de emergência), o que inclui não fazer mímicas e nem contato visual com nenhuma outra pessoa.
- ficar sem ler, escrever, fazer exercícios (com exceção de caminhada leve), ou qualquer outra coisa que não seja meditar, dormir, comer e pensar.
- seguir a rotina de horários do curso, para meditar, comer e dormir. Todos acordam as 04:00 e vão dormir as 21:30.
- colaborar com as atividades básicas do centro, como lavar louça e limpeza básica, já que tudo ocorre de forma colaborativa.
- respeitar as áreas distintas para homens e mulheres.
- seguir a dieta vegetariana que é oferecida durante o curso.
- dormir em camas simples, oferecidas pelo centro. Se prepare para um colchão duro que vai te ajudar a levantar mais fácil as 4 da manhã.
POR QUE O VIPASSANA É GRATUITO?
No mundo inteiro os ensinamentos da meditação Vipassana são passados de forma gratuita. É uma linda corrente do bem onde o único intuito é ajudar genuinamente outras pessoas a se auto-equilibrarem para terem mais qualidade de vida. Para o Sr. S.N. Goenka, cobrar por esse aprendizado iria contra a essência da própria Vipassana e por isso tudo acontece através da boa vontade de outras pessoas. Isso significa que todo o custo com alojamento e alimentação também são gratuitos.
Ou seja, pessoas que já fizeram o curso colaboram para que outras pessoas possam aprender a prática, seja através de trabalho voluntário nos cursos e montagem dos centros, seja através de doações financeiras ou materiais, cada um dentro das suas possibilidades.
ONDE FAZER E COMO SE INSCREVER?
Pelo mundo: aqui você pode encontrar todos os centros de Vipassana espalhados pelo mundo. Veja o post da viajante Camila Albani (do blog Asas e Raízes) que a ViraVolta ajudou e que viveu a mesma experiência na Malásia.
No Brasil: São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná, Distrito Federal e Nordeste.
FICA A DICA
O processo de inscrição é simples mas se esgota rápido. Cada página tem a sua agenda de cursos e eles sempre avisam com antecedência a abertura de inscrição de cada curso. Anote na sua agenda pra você se inscrever no exato minuto em que abrir, pois as vagas se esgotam rápido, principalmente a de mulheres.
Se você sente que essa pode ser uma experiência interessante na sua vida, não deixe pra depois. Vai que dá! Ficar 10 dias em silêncio é o mais fácil.
Crédito foto de capa: Sebastien Wiertz / Créditos fotos do retiro em São Paulo: Marina Sbrana e Alice Gonçalves
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Carol Fernandes
IDEALIZADORA
Uma virginiana certinha da pá virada, que virou de vez depois de viajar o mundo e decidiu que só ia fazer o bem. Criou a ViraVolta porque acredita que viajar o mundo transforma as pessoas e as pessoas transformam o mundo. Não escreve rebuscado, poético ou certinho, mas fala com a alma e o coração.