E SE EU TE FALAR QUE VOCÊ NÃO DEVIA FAZER PLANOS PARA A SUA VOLTA! Eu sei. Eu sei que uma das maiores preocupações quando decidimos realizar uma longa viagem pelo mundo é a bendita da volta! Mas posso garantir que a energia que você vai gastar tentando fazer planos pra volta será inútil.
Eu não sou contra planos! Muito pelo contrário. Eles são bons, mas precisamos ter flexibilidade. Planejar a sua longa viagem é bom por duas razões: para te deixar mais seguro e para você se preparar financeiramente para a viagem. Mas você precisa ter a consciência de que aquele plano é um norte e que não deveria te impedir de viver experiências pelo caminho que mudem completamente o seu plano.
Planejar a volta também pode ser legal. Mas eu já alerto! Se fosse você teria apenas uma preocupação: se planejar financeiramente. Saiba o quanto de dinheiro você gostaria de guardar pra sua volta e nada mais. Planos de carreira, planos de trabalho… Deixa pra lá!
Afinal existem grandes chances dos seus planos mudarem totalmente. Eu fiz plano A, B e C pra volta da minha viagem. Claro, sou virginiana. Mas eu não fiz nenhum deles. Simplesmente porque a Carol que estava voltando da viagem, não era a mesma Carol que tinha partido do Brasil.
Então relaxa. Você não sabe se você vai voltar. Não sabe se você vai voltar e vai querer trabalhar com o mesmo que fazia antes. Não sabe se vai querer voltar pra morar na mesma cidade. Não sabe se vai descobrir uma nova habilidade e querer se enfiar em algo totalmente novo. É tudo uma supresa e essa é a maior excitação de uma longa viagem.
Vai viver cada dia da sua jornada intensamente. Se abra para o mundo e as possibilidades. Viva experiências novas sempre que possível. E foi exatamente isso que a Analu Bento fez, quando aos 32 anos ela começou seu mochilão de 1 ano e acabou indo morar na China no 10º mês da viagem.
Assim como a história do Rodrigo Siqueira, que virou instrutor de mergulho e acabou morando 1 ano México. A história da Analu reforça que o melhor é estarmos sempre abertos às oportunidades do caminho.
Texto por Analu Bento da Silva
Eu sempre fui uma pessoa muito organizada e metódica, talvez por isso tenha sido tão difícil aceitar que a vida estava sem rumo. A crise dos trinta anos chegou um pouco antecipada e com força suficiente para abalar os alicerces da minha vidinha sem graça. Em pleno 2015 lá estava eu, com 29 anos na cara e um marasmo sem tamanho. Vi todos os amigos constituindo família, enquanto eu não queria seguir por aquele caminho. Apesar de estar num bom emprego e gostar muito dos meus alunos, estava desanimada com as decisões administrativas do curso de idiomas onde eu trabalhava. E ainda que não fosse exatamente um problema, continuava morando na casa dos meus pais e me sentindo cada vez mais um peixe fora d’água. Foi em meio a essa mesmice que eu decidi que iria tirar um ano sabático.
Eu abracei a ideia de viajar o mundo como sempre fiz com tudo na vida: cautela e planejamento. Passei quase um ano e meio me preparando, me informando e planejando o máximo que eu podia. O meu objetivo era passar um ano viajando para dar uma esparecida e reavaliar os rumos que iria tomar quando voltasse.
Eu embarquei para a Ásia em agosto de 2016 com um roteiro amarradinho, só não sabia o quanto os planos iriam mudar uma vez que eu caísse na estrada.
Pelas cidades do Sudeste Asiático o que mais se encontra são jovens americanos, ingleses e australianos que estão por lá dando aula de inglês durante um ano sabático ou para ajudar a cobrir os custos das suas viagens. Sempre que esbarrava em um deles me batia uma pontada de inveja, afinal, eu também era professora de inglês, mas tinha dado o azar de “nascer no país errado” e achava que nunca conseguiria fazer o mesmo que eles. Até que um belo dia eu conheci uma ucraniana que estava na China dando aulas de inglês e vi que o sonho de seguir com a minha carreia e morar fora do país podia sim ser uma realidade.
A partir daí todos os planos que eu tinha feito foram jogados pela janela. Encurtei minha passagem pela Ásia e segui para a Europa para fazer um curso TESOL. Aliás, meu roteiro na Europa foi totalmente reformulado em torno de Budapeste, o lugar onde eu passei um mês fazendo esse curso, escolhido por ter o melhor custo benefício.
O mochilão que deveria ter durado um ano inteiro acabou durando 10 meses depois de passar por 17 países (dois meses e alguns carimbos no passaporte a menos do que eu tinha planejado originalmente). A volta pra casa que deveria ser definitiva acabou se tornando uma parada estratégica de três meses. Depois de todas as aventuras vividas acabei embarcando para uma maior ainda: morar na China.
De vez em quando bate uma saudade dos meus dias de mochileira, de quando a minha única preocupação era achar um lugar para comer em cada cidade dentro do meu orçamento. Mas por mais que eu tenha amado cada minuto da viagem, com suas loucuras e perrengues, eu sempre soube que a vida permanente na estrada não era pra mim. Sigo admirando quem consegue, e acompanhando pelos blogs e redes sociais aqueles que são mais desprendidos que eu.
Ainda que hoje eu tenha novamente uma rotina de trabalho “normal” e esteja parada no mesmo lugar há mais de um ano, eu consigo ver como a experiência de ter viajado a longo prazo me modificou. Minha mente foi aberta não só para culturas e estilos de vida diferentes, mas também para possibilidades profissionais que eu nunca havia considerado até então. Sem tudo isso, eu jamais teria tido a coragem de me mudar de mala e cuia para um país em que eu sequer entendo a língua.
Tenho certeza que outras viagens virão, talvez mais longas, talvez mais curtas que aquela. Mas tenho lá minhas dúvidas que alguma vá mexer tanto com a minha vida quanto aquele mochilão de um ano que só durou 10 meses.
ANALU BENTO DA SILVA
Professora de inglês, apaixonada por viagens e blogueira ocasional. Depois de alguns meses de uma viagem que devia ter durado 1 ano, decidiu refazer os planos para poder morar fora e hoje vive na China. Saiba mais: Instagram, Facebook, Blog, Colaboradora.
A incerteza é na verdade um mundo de possibilidades! Só vai viver e deixa o destino trazer as surpresas pra vocês. Afinal a vida é muito mais excitante assim do que uma vida onde sabemos como tudo vai acontecer até o final.
Vai que dá
Créditos fotos: Analu Bento da Silva
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Carol Fernandes
IDEALIZADORA
Uma virginiana certinha da pá virada, que virou de vez depois de viajar o mundo e decidiu que só ia fazer o bem. Criou a ViraVolta porque acredita que viajar o mundo transforma as pessoas e as pessoas transformam o mundo. Não escreve rebuscado, poético ou certinho, mas fala com a alma e o coração.