Você sempre sonhou em fazer a Transiberiana mas acha esse um sonho muito caro? É claro, você deve ter olhado em umas agências por aí e realmente pareceu impossível. Mas saiba, você não precisa de uma agência para realizar essa experiência. Você pode fazer de forma independente e ainda sai infinitamente mais em conta pro seu bolso.
Marina e Rafael, do @sejogaai, são quase trintões que largaram uma vida na acelerada São Paulo para conseguir parar e apreciar o mundo por 16 meses. Eles são um casal inexperiente em viagens e percorreram mais de 6 mil km de trem pela Rússia. Então eu decidi convidar a dupla pra falar um pouco sobre essa experiência e te provar que se eles conseguiram, você também consegue. Mesmo sem falar a língua local.
E lembre-se, esse é apenas um dos sonhos que você está deixando e realizar por achar muito caro. Se você quer construir sua mente de viajante, pra entender que é possível viajar e viver experiências significativas sem ter que gastar muito pra isso não esqueça de conferir o curso online da ViraVolta.
Texto por Marina Arrigoni e Rafael Arrigoni
Sabe aquele sentimento horrível de olhar pela janela do escritório e ver a vida passando sem que você seja parte ativa dela? Claro que você sabe, é até clichê falar disso, mas é clichê porque acontece com muita gente, e se você está aqui nesse site provavelmente já aconteceu com você de alguma forma. Foi basicamente essa sensação e uma rebeldia em relação ao que é esperado de jovens casados (trabalhar muito, comprar casa, ter filhos, etc…) que nos fez querer sair pelo mundo. Um misto de querer conhecer e, oras, viver de verdade.
O único problema é que somos, vamos dizer, um casal atrapalhado. Antes disso nunca tínhamos viajado em grande quantidade ou feito qualquer mochilão, por isso muito dos perrengues que trazem os aprendizados para viajantes mais experientes eram desconhecidos por nós. E por isso foi muito bom ter percorrido o trajeto transiberiano logo no começo da nossa viagem, pois lá aprendemos muita coisa.
Cruzar a Rússia de trem esteve no nosso imaginário desde que começamos a pesquisar sobre possíveis destinos. Era uma ideia exótica e que acabou nos seduzindo. Afinal conhecer as paisagens da Sibéria, andar mais de 9.000 km sobre trilhos e passar por 8 fusos horários diferentes é uma aventura para contar pelo resto da vida. No fim não percorremos o trajeto todo, pois fizemos um desvio para ir até a Mongólia, que convenhamos, também é legal pra caramba.
Nossa “Preparação”
E eis que um dia chegou a hora de começar a nossa jornada. De dias distantes debruçados sobre sites de viagem e planilhas já estávamos no meio de Agosto de 2018, e após uma estadia rápida em Moscou teríamos que enfrentar o trem.
Embarcamos com um gostoso frio na barriga, que ainda bem não era uma indisposição intestinal, pois passar mal na Transiberiana não é recomendado.
Antes de falar sobre a jornada em si, um pouco da nossa preparação e trajeto. Compramos uma parte dos tickets em Moscou, na estação de trem. Foi confuso e trabalhoso, tanto pela falta de informação em inglês (a máquina de auto-atendimento não era 100% traduzida) quanto pela nossa incapacidade de se virar, fruto do começo da viagem. Depois de muito tempo igual duas baratas tontas pela estação uma atendente russa, simpática a sua maneira, nos ajudou bastante, ainda bem.
Além de ir até a estação e usar o guichê ou a máquina de auto-atendimento, é possível comprar os tickets online, mas achamos o site confuso, mesmo que depois nos enfiamos em uma confusão maior.
Fomos primeiro de Moscou para São Petesburgo (de trem também), ficamos alguns dias e aí partimos de lá para Kazan. Em Kazan nossa estadia foi de 2 dias e depois fomos para Irkutsk, com uma rápida parada para troca de trens em Ecaterimburgo. De Irkutsk, após conhecer o Baikal, nos dirigimos para nossa última parada, Ulan Bator, já na Mongólia.
Embarcando
Nossa jornada começou logo após uma corrida contra o tempo em São Petesburgo, em que pegamos nosso trem faltando 5 minutos para ele partir (e lá eles são pontuais). Após achar nosso vagão embarcamos cansados, suados e duas ótimas representações do que são seres humanos sem condicionamento físico. Cambaleamos até nossos lugares e quase morremos para colocar nossas mochilas no local adequado, acima de nossas camas, que eram ambas a parte de cima do beliche.
Nos vagões da terceira classe não existem cabines fechadas, apenas dois beliches em uma espécie de “cabine aberta” e um outro beliche enfiado num canto apertado do corredor. Ou seja, todo mundo vê todo mundo a todo o momento (mesmo nos mais íntimos). Refeições acontecem em uma mesinha comunitária que fica entre os dois beliches. Para quem fica no corredor a cama debaixo “vira” uma dessas mesinhas.
Falando em refeições, é bom saber que os vagões são uma verdadeira explosão de odores. Os russos viajavam em família, e as famílias levam seus próprios “banquetes” para a jornada. Tem sopa, tem cozido, tem pão, tem coisa estranha pra passar no pão e tem itens mais peculiares ainda, como uma turma que comprou um peixe cru em uma das paradas e começou a corta-lo e comê-lo ali na hora mesmo, tipo um sushi. Fora as comidas vale lembrar que são vagões apinhados de gente, gente com necessidades fisiológicas e que não tomam um banho decente há a algum tempo. Nossa viagem de Kazan a Irkutsk, por exemplo, foi bizarramente longa, ficamos mais de 48 horas seguidas enfiados no trem, e aí que surge nosso herói, o lencinho umedecido, salvando os últimos vestígios de higiene que temos nesses lugares. Acontece que nem todo mundo é adepto desse tecido mágico, então o bicho começa a pegar.
Caso não tenha ficado claro, nesses trens não tem chuveiro, muito menos na terceira classe, onde o banheiro parece uma armadilha prestes a te jogar nos trilhos, por isso a higiene a base da umidade desses produtos para bumbum de neném é essencial.
No fim só podemos dizer que foi uma experiência incrível, pois foi nosso primeiro contato intenso da viagem com os locais de um país. Era fim de verão e acompanhamos as famílias russas voltando para suas casas após as férias. Encontramos estrangeiros apenas na única vez em que visitamos o vagão restaurante, e era uma turma bem de nariz em pé, então fiquei feliz de ter ficado só com os russos de cueca lá da terceira classe.
Os russos, inclusive, nos surpreenderam muito. Tivemos contato com gente de todas as idades, e apesar de serem reservados naturalmente, sempre foram gentis (a sua maneira) e atenciosos conosco. Entre seus conhecidos são alegres e comunicativos. Nos deram uma verdadeira aula de como respeitar o espaço do próximo e em nenhum momento nos sentimos ameaçados
Para nós, como já dissemos, fazer algo desse tipo logo no começo da viagem foi muito importante. Aprendemos a nos virar em diversas situações em que não entendíamos nada, fizemos burradas, resolvemos as burradas e ajudamos e fomos ajudados. Para vocês terem ideia de como as coisas mudam rapidamente em uma viagem desse tipo, compramos a nossa segunda leva de tickets em Kazan, na máquina de auto-atendimento da estação, nos virando no cirílico mesmo, e foi super fácil. A vida ensina.
E o mais importante, sentimos todo o potencial daquele sentimento incrível de liberdade enquanto íamos a toda para dentro do coração da Rússia. Aliás vale a pena demais visitar a Sibéria e o lado oriental do país.
Em resumo percorremos mais de 6 mil km e contando todos os trajetos ficamos mais de 120 horas no trem. Nosso percurso mais longo foi de Kazan à Irkutsk, um pouco mais de 48 horas seguidas sobre trilhos. Paramos em São Petesburgo, Kazan, Irkutsk e Ulan Bator. Nosso tempo era limitado (15 dias), mas recomendamos fazer mais paradas ao longo do caminho. O saldo final? Extremamente positivo.
Dicas para quem for fazer a Transiberiana
- O lencinho umedecido é seu melhor amigo, não esqueça dele.
- Na extremidade de cada vagão tem água quente de graça. Passe antes no mercado e use e abuse de chás, café e refeições estilo cup noodles. O vagão restaurante é caro e não vale a pena.
- As passagens são compradas por perna, ou seja, se você quiser ficar em uma cidade no meio do caminho precisa comprar a passagem até ela e depois outra até o seu destino final. O trem até faz umas paradas, mas elas são no máximo de 20 minutos e servem pro pessoal fumar ou comprar algo na estação mesmo.
- Pode parecer confuso, mas aprender um pouco do alfabeto cirílico é muito útil, principalmente para ler placas e usar máquinas de autoatendimento. Também é bem mais fácil do que parece.
- Se você consegue ler em inglês esse site ajuda muito o planejamento. Inclusive ele tem o link para o site de compra de passagens.
- Existem diversos trens rodando pela malha ferroviária do país, você pode dar sorte e pegar um novo que tem varias tomadas ou ficar em um trem mais velho que normalmente tem apenas uma ou duas tomadas por vagão. Ficar perto da energia elétrica pode ser bom, mas saiba que todo mundo vai ficar indo até sua cama para recarregar celulares, é normal. Melhor se equipar com powerbank ou algo do tipo. Melhor ainda, fique um pouco off-line.
MARINA E RAFAEL ARRIGONI
Sempre existe uma forma de realizar as experiências de forma mais econômica, só precisamos abrir nossa mente para novas possibilidades. Muitas vezes aquelas experiências que entortamos o olhar são justamente as experiências que vão trazer mais aprendizado pra vida. Fazer a transiberiana no vagão turístico certamente não vai trazer um terço do aprendizado de fazer no mesmo vagão com todos os locais. Eu escolho me aprofundar na cultura.
Essa é apenas uma das dicas de realizar experiências mais baratas na viagem. Se você quer aprender um estilo de viagem mais conectado com a cultura pra construir sua mente de viajante, que te permite explorar mais gastando pouco pra isso não deixa de conferir o curso online da ViraVolta.
Créditos foto: Marina e Rafael Arrigoni
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Carol Fernandes
IDEALIZADORA
Uma virginiana certinha da pá virada, que virou de vez depois de viajar o mundo e decidiu que só ia fazer o bem. Criou a ViraVolta porque acredita que viajar o mundo transforma as pessoas e as pessoas transformam o mundo. Não escreve rebuscado, poético ou certinho, mas fala com a alma e o coração.